Uma aventura na Dinamarca
Depois de três anos e meio, chegou o dia mais esperado das nossas vidas de Brigadeiros. O dia em que tiramos os nossos pezinhos do nosso país e embarcamos em uma grande aventura do outro lado do Atlântico. Se tivessem nos perguntado em algum momento da vida, acho que jamais teríamos conseguido adivinhar onde seria o nosso primeiro casamento fora do Brasil. Provavelmente, teríamos chutado EUA, talvez Espanha ou mesmo Portugal, já que são países mais próximos da nossa cultura, e que se identificariam mais com o nosso trabalho. Jamais, nunca, nunquinha teríamos desconfiado que, em algum momento de nossas vidas, iríamos dar REC em uma câmera na Escandinávia.
Mas foi lá, em Copenhagen, na Dinamarca, o nosso primeiro casamento internacional. Mais do que a sensação deliciosa de viajar e passear, fazer um casamento fora do Brasil nos deu a oportunidade de conhecer mais a fundo uma cultura muito diferente da nossa. Em um só dia, conhecemos um pouquinho da comida, do ritual do casamento, da festa, das relações pessoais e até mesmo fizemos amizade com frrrrrio de lá. Tudo bem que nem estava tão frio assim, foi um dos invernos mais quentes dos últimos tempos, mas nós realmente não estamos acostumados a fazer casamento em menos de 5°C. Mas foi incrível.
Nós conhecemos a Alessandra no ano passado, e ela havia nos procurado para filmar o casamento dela com o Henrik em Brasília, no começo deste ano. Conversamos por Skype algumas vezes e, em uma delas, comentamos que iríamos tirar férias no fim do ano na Europa. Talvez pudéssemos aproveitar para nos conhecer em algum lugar da viagem. Aí a Alessandra disse que não poderíamos nos encontrar nas férias porque ela iria se casar na Dinamarca em Janeiro. E aí, veio um convite, ainda bem hipotético: Será que nós gostaríamos de ir filmar o casamento na Dinamarca? Ué, por que não? Não deve existir um lugar mais original para brasileiros fazerem um vídeo de casamento e, de quebra, ainda iríamos adicionar Copenhagen ao nosso passeio. Tinha tudo para ser demais. Montamos, desmontamos, remontamos e viramos o nosso roteiro de cabeça para baixo para conseguirmos acertar as datas, e deu certo. Iríamos para Copenhagen logo depois do ano-novo, e estaríamos no casamento no dia 4 de Janeiro.
A experiência foi muito legal para nós de uma forma geral. Conforme íamos pensando na viagem, nas nossas primeiras férias, na nossa primeira vez na Europa íamos também ficando mais ansiosos para o casamento, pensando em todas as coisas diferentes que veríamos lá, em como deveria ser um casamento dinamarquês, quais as tradições que veríamos por lá, na neve e em como seria incrível fazer um casamento na Dinamarca. Tínhamos também alguns detalhes para resolver. Não tínhamos como carregar todo o nosso equipamento por um mês Europa afora. Além de ser perigoso, ainda tinha o fato de que o nosso limite de bagagem não era suficiente nem para carregar as nossas roupas, quanto mais todos os 50kg que nós normalmente levamos.
Fizemos então uma pesquisa junto com a Alê em todos as (duas) locadoras dinamarquesas de equipamentos para encontrar tudo o que a gente precisava para fazer o casamento e, descobrimos que a nossa realidade aqui no Brasil é muito mais farta em opções. No fim das contas, acabamos tendo que levar algumas das nossas coisas como, gravador e algumas lentes, porque eles simplesmente não tinham lá disponível para alugar. Sem contar que o preço deles é muito mais salgado, por conta dos 25% de imposto que precisam ser pagos em qualquer locação. É claro que na Dinamarca, que tem um dos melhores padrões de qualidade de vida do mundo, todos esses impostos são revertidos para a população, que pode estudar desde o jardim de infância até o mestrado absolutamente grátis e com um ensino esmagadoramente superior ao nosso mas, mesmo assim, na hora de alugar duas 5Ds, o valor não ficou lá muito agradável. Chegando na véspera do casamento, descobrimos que não haviam conseguido slider e nem mesmo um tripé de vídeo, e aí entramos em pânico de leve. Por sorte, havíamos conseguido comprar dois monopés no dia anterior em Londres, na única loja aberta na cidade em um 2 de janeiro e, com um preço muito bom (compramos na Camera World e pagamos mais barato que na BH – aproveitamos para levar também uma Super8 da Canon que estava na promoção e absolutamente novinha e linda).
Chegou então o dia 4 de janeiro, e lá fomos nós para o casamento munidos de três 5Ds Mark III, uma 50mm 1.2, uma 35mm 1,4, uma 45mm 2.8 TSE, uma 17-40mm 4.0, uma 100mm 2.8 macro, um gravador de som, dois monopés e um tripé de foto. É, um tripé de foto. Quase entramos em depressão ao ver que todos os travelings incríveis que nós havíamos planejado não seriam possíveis, e o nosso tripé permitia movimentos mega-limitados e nada suaves em dois eixos. Com o melhor espírito “é o que tem pra hoje” fomos lá encarar um desafio e tanto.
Mesmo com um pouco de medo, não demorou muito para percebermos que era mesmo para a gente curtir o momento, respirar fundo, fazer o nosso melhor e confiar. No Nimb, o hotel mais lindo em que já estivemos até hoje, a Alê estava nervosa, mas muito meiga se arrumando no quarto, acompanhada pelos olhares amorosos da tia e do pai, cheio de admiração. A decoração ficou uma coisa fofa. Havíamos passado a noite e a madrugada do dia anterior com a Alê no hotel, tentando achar algum pedacinho de dom de decorador para montar uma mesa de doces à brasileira, porque na Dinamarca não existe mesa de doces, só o bolo mesmo. Para deixar tudo com mais cara de Brasil, a Alê fez brigadeiros e beijinhos para apresentar os nossos docinhos prediletos para os dinamarqueses. Não foi fácil não, acho que a gente não nasceu para ser decorador, mas a mesa ficou uma fofura. O Henrik não quis fazer o making of da preparação dele. Ele, aliás, nem sabia que isso existia. Na verdade, na Dinamarca, vídeo de casamento não é muito comum. É uma coisa mais para a família real. Acho que, por isso, muita gente estranhou a nossa presença no casamento, ainda que tenham nos confundido com a fotógrafa algumas vezes.
O casamento dinamarquês é muito mais simples do que o nosso aqui. É, na verdade, um casamento civil bem rápido, seguido de um brunch ou jantar no qual os convidados podem discursar sobre os noivos. No caso do casamento da Alê o do Henrik, tivemos um brunch cheio de speeches. Diferente do casamento americano, no qual já se sabe quem vai falar, no casamento dinamarquês, qualquer pessoa pode falar o que quiser, basta se apresentar ao toastmaster. E caso você esteja curioso para saber se a gente entendeu alguma coisa do que eles falaram, na Dinamarca, todo mundo fala inglês. Todo mundo mesmo, até o motorista de táxi, até o atendente do McDonalds. Todo mundo tem inglês na desde o primário e sai da escola fluente. Claro, teve o discurso da mãe do Henrik, que nunca vamos decifrar porque foi 100% em dinamarquês mas, temos certeza de que pra ele fez muito sentido (hehehe). E também tem as músicas muito legais, que eu realmente não sei se são uma tradição, mas que são muito legais. Os pais do noivo adaptaram músicas famosas para contar a história dos noivos e, seguindo o ritmo, todo mundo cantou junto. Foi um dos momentos mais legais para nós.
Além dos speeches e dos brindes (que aliás, eles adoram e fazem um a cada 5 minutos), tem também a dança do casal, que acontece no final da festa e é seguida pelo corte das meias do noivo, feito pelos amigos para que o chulé dele se espalhe e assim nenhuma outra mulher queira chegar perto dele. Será tarefa da esposa aguentar o chulé do marido por todos os dias de sua vida. Para completar, quando os convidados batem os pés no chão, os noivos devem se beijar embaixo da mesa e, quando batem os talheres nos pratos, eles devem subir em suas cadeiras e se beijar. É quase como um “vivo ou morto”, e os convidados se divertem fazendo os noivos subirem e descerem o tempo todo. Acho que poderíamos ter isso aqui no Brasil também. É extremamente divertido. O casamento acaba com o corte do bolo, e os noivos são os primeiros a prová-lo.
No fim das contas, não nevou, e essa foi a única das nossas decepções. Estávamos loucos para brincar na neve. Durante todos os 36 dias de viagem, só vimos neve pela janela do trem e do avião, mas não tem problema, vamos voltar um dia. Por outro lado, o recepcionista do hotel disse que nós levamos o sol para a Dinamarca, porque nessa época do ano ele é algo bem raro. E é mesmo. Nos 4 dias que ficamos lá, só vimos o sol uma vez: no dia do casamento, hahahaha). Copenhagen é levemente melancólica, por causa da umidade e dos dias curtos e frios. Em frente à prefeitura, há um termômetro que oscila entre -20ºC e 20ºC, o que prova que o clima lá tá muito mais pra frio o que pra calor. Mas, confesso que nós ficamos morrendo de inveja da vida tranquila das pessoas lá. Das bicicletas encostadas sem correntes nos prédios sem portões; das velhinhas passeando pelas ruas com seus cachorrinhos; dos jovens conversando despreocupados nas ruas às 3h da manhã com seus iPhones na mão; das pessoas que andam sem medo e sem pressa, sozinhas, mesmo tarde da noite; do transporte que funciona; da educação das pessoas; dos lindos canais, com barquinhos e de toda tranquilidade das pessoas que vivem em um país no qual o estado faz o seu papel. Por outro lado, a cidade parece tranquila demais, talvez não seja o ideal para quem está acostumado com a vida agitada de uma cidade grande como São Paulo. Mas talvez a gente pudesse se acostumar com essa calma toda. Pensando bem, eu tenho quase certeza que sim. É uma delícia de lugar. Acho que a nossa aventura não poderia ter sido melhor. ?
Uma curiosidade: A imagem que encerra o vídeo é a estátua da Pequena Sereia, um símbolo de Copenhagen, uma homenagem ao escritor e poeta Hans Christian Andersen, que foi o criador da história de mesmo nome. Andamos uns 6km a pé para chegar até ela, mas não podíamos deixar de conhecê-la. Apesar de ser só uma estátua, o passeio vale à pena, e você pode tomar um chocolate quente com avelã enquanto a acompanha olhando para o horizonte por alguns instantes.